Irã sugere que poderia mudar sua doutrina nuclear para se defender

O Irã deu a entender nesta segunda-feira, 4, que poderia mudar sua doutrina nuclear – que dita uma utilização exclusivamente civil deste tipo de energia – “para se defender”, em meio a uma espiral de tensão devido à escalada bélica de Israel na região.

A sugestão foi feita pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Ismail Baghaei, em sua coletiva de imprensa semanal, quando questionado sobre os últimos comentários das autoridades sobre a questão nuclear, incluindo o líder supremo, Ali Khamenei.

“Nossa posição oficial sobre a proibição da fabricação de armas de destruição em massa é clara, mas, como disse o líder em seu discurso, faremos o que for necessário para nos defendermos”, disse Baghaei.

O diplomata afirmou ainda que o Irã “se equipará com tudo o que for necessário para defender o país”.

Khamenei afirmou no sábado que fará “tudo o que for necessário para preparar a nação iraniana para enfrentar a arrogância (dos Estados Unidos e de Israel), seja militar, armamentista ou politicamente”, em resposta a um estudante que lhe perguntou sobre uma possível mudança na doutrina nuclear do país.

A mais alta autoridade política e religiosa do Irã emitiu uma fatwa (decisão religiosa) em 2003 que declarou como “haram” (proibidas) as armas nucleares e biológicas, e desde então o Irã tem assegurado que seu programa nuclear tem um objetivo exclusivamente civil.

Na mesma linha, o conselheiro de Khamenei, Kamal Kharrazi, afirmou na sexta-feira que Teerã poderia mudar sua doutrina nuclear se tiver de enfrentar “uma ameaça existencial”, em uma entrevista ao canal de televisão libanês “Al Mayadeen”.

Além disso, no início de outubro, 39 parlamentares iranianos pediram ao Conselho Supremo de Segurança Nacional que reconsiderasse a doutrina de defesa da República Islâmica perante a ameaça israelense.

Os parlamentares – de um total de 290 – argumentaram que a fatwa que Khamenei emitiu proibindo a fabricação e o uso de armas de destruição em massa pode mudar dependendo das condições.

Estas discussões sobre a questão nuclear acontecem em meio a confrontos diretos com Israel, que matou cinco iranianos em um ataque há poucos dias contra o Irã, que prometeu vingança e que já bombardeou o Estado judeu no início do mês com cerca de 180 mísseis.

Estas palavras coincidem com um endurecimento do tom das autoridades iranianas contra Israel nos últimos dias, em que vários porta-vozes garantiram que responderão “ferozmente” ao ataque israelense de sábado contra alvos militares que causou cinco mortes.

O programa atômico iraniano registrou grandes progressos nos últimos anos, após o colapso do acordo nuclear assinado em 2015, embora o país não possua armas nucleares.

De acordo com o mais recente relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), publicado em agosto em Viena, o Irã produz urânio altamente enriquecido, até 60%, um material que quase não tem utilização civil, mas sim militares.

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Edson Marcelo Caramelo

Administrador de Empresas formado pela Universidade Católica Dom Bosco, especialista em blogs, escritor e produtor de infoprodutos.

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